segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Só vale em território nacional

Ontem a noite estava chovendo. E eu estava deitada na cama, olhando nossas fotos. Aquelas mesmas que ficam penduradas na parede do quarto. Estava lá olhando pra você. Lá estava também o postal que você me mandou.
Ao lado postal tem um pedaço de Caio Fernando Abreu escrito no papel com letra de forma, assim: “Ele pode pensar em você todos os dias. E ainda sim, preferir o silêncio.” Foi isso que eu quis acreditar nesse período. Atrás do postal está escrito “te amo!!!”. Um te amo que quando foi escrito, era de verdade. 
Eu olhava pra você e para a cama vazia. Olhava pra você e para a chuva lá fora. Olhava pra você e para o seu silêncio. E eu, silenciei meus olhares e pensamentos também.
Nesse tempo todo acreditei no nosso amor, mas agora, já acho que esse nosso amor, era só meu. Mesmo nessa distância infinita, eu achei que podíamos ter sobrevivido. Mas descobri que sem fronteiras mesmo, é só o telefone da TIM. Descobri também que relacionamento é igual carteira de identidade, só vale em território nacional. 
Ando com uma vontade tão grande de receber todos os afetos, todos os carinhos, todas as atenções. Quero colo, quero beijo, quero cafuné, abraço apertado, massagem de madrugada, quero flores, quero doces, quero música, vento, cheiros, quero parar de me doar e começar a receber.
Entre o que tenho visto, de todas as coisas que você poderia ter escolhido ser pra mim, você escolheu ser saudade.
Saudade é um pouco como fome. Só passa quando se come a presença. Mas às vezes a saudade é tão profunda que até a presença é pouco.
To aqui aprendendo que nem todos dão valor ao que você pode oferecer, e acabar demonstrando afeto demais começa a encher o saco, e digo tudo isso da minha parte. Chega de ligações, preocupações, sentimentos demonstrados ao extremo.
Eu sempre quis fazer você feliz, às vezes eu me deixava pra outra hora. Eu sempre quis falar o que eu sentia, mas dessa vez foi o silêncio que falou por mim. Eu sempre me esforcei pra te incentivar. Eu sempre te deixei bem à vontade, mas a sua falta de vontade me desmotivou.
Quando me entrego, me atiro. Mas quando recuo, não volto mais.
Hoje vou trocar aquele papel escrito com letra de forma que fica perto da sua foto pendurada. Colocarei outro pedaço de Caio Fernando Abreu com a mesma letra de forma, bem assim: “Não te procuro mais, nem corro atrás. Deixo-te livre para sentir minha falta, se é que faço falta. Tens meu número, meu endereço, na verdade meu coração, então se sentir vontade de falar comigo ou me ver, me procura você.”. 

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

É só isso que preciso saber

Só me responda uma coisa.
Eu não quero saber quantas vezes você foi pra cama nesse tempo. Não me interessa se foi de graça, ou se foi paga. Se era nativa ou turista. Não quero saber se foi bom ou se foi ruim. Tanto faz o motivo. Não importa se foi carência, ou por qualquer outra coisa.
Me desinteresso pela causa. Não me importa quantas garrafas de vinhos e whiskys você gastou. Nem os quantos cigarros e charutos você usou. Nem mesmos quantos night clubs você freqüentou.
Sei que foi um período longo e complicado. Sei de mais coisas do que você pensa. Não preciso saber dos detalhes. Não me interessa nada disso.
Nada disso fará diferença quando você voltar. Nada mais vai importar.
Eu só preciso saber de uma coisa.
Eu não quero suas desculpas. Suas explicações. Suas justificativas.
Talvez nem mesmo seu arrependimento (caso exista) vá valer pra alguma coisa. Não vou te cobrar nada. Nenhum comportamento. Nenhum presente. Nenhuma palavra. Nada.
Só tem uma coisa que preciso saber. Só isso vai fazer diferença.
Mais do que isso, preciso que me responda a verdade. Seja sincero não tenha medo se vai doer, porque se doer vai ser só em mim mesmo. Não se preocupe com a dor. Mas me responda, por favor.
A única coisa que eu preciso saber é se você se apaixonou. A única coisa que eu quero sabe é se foi por amor.
Foi? Olha pra mim. Me responde. Foi por amor? Foi por paixão? Foi de coração? Fale.
Não pense que você vai me perder se me disser a verdade.
Você já me perdeu se a verdade for que você fez por amor, pelo coração, pela paixão. Naquela hora você me perdeu, não vai ser agora falando à verdade que as coisas vão mudar.
Não vou me importar se foi só pra elevar a sua cota. Se foi para aumentar o seu acervo. Se era pra enriquecer seu currículo. Se foi pra amaciar o ego. Se foi por farra.
É só isso que preciso saber.

sábado, 21 de janeiro de 2012

Por uma noite

Embora não fora nada demais, mas você não sabe o que foi aquela noite pra mim. 
Uma noite normal, de uma semana qualquer, num bar de algum lugar, tomando o mesmo drink. Mas você estava lá, foi isso que fez a noite melhor. Na verdade você me fez sentir algo que já achava que nem existia mais. A vontade de ir embora não era bem-vinda ali. E o relógio também estava dispensado.
Você sem fazer força me agradar, acabou me conquistando. 
E, sabe... Você já pode abrir aquela escola que te falei, na verdade você me convenceu sim, eu que não tive coragem. Convencida eu já estava. 
Mas calma. Não vou me apaixonar por você. Não tenho esse direito, nem por mim, nem por você e muito menos por eles. Mas é que você chegou quando eu tava precisando disso, de alguém pra ficar ali, no alto da cidade, vendo as luzes, falando de coisas em comum. Alguém que não fosse extraordinário. Alguém interessante, na versão básico. Talvez fora apenas um ato solidário. Seja lá pelo o que foi. Foi bom.  
Já é manhã, mas não consigo deixar aquela noite sair de mim. Ela me abre um sorriso espontâneo. Um sorriso que brota do nada, no meio da rua, sem eu precisar lembrar de nada, é como se eu vivesse tudo de novo em frações de segundos. Só percebo isso quando já estou no suspiro final, e aí sorrio de novo.
Vai, eu sei que cada um teve sua interpretação da noite e seus motivos para estar ali, também sei que foram diferentes. Cada um estava ali em prol de si, esvaziando-se do vazio que carregava. Se enchendo com um pouquinho do outro. 
Você não tinha me visto antes, mal me conheceu e ainda sim conseguiu acertar todos os meus gostos, conseguiu acertar minhas musicas, conseguiu acertar os meus desejos, conseguiu acertar o que eu queria. Conseguiu tudo. Acertar tudo.
Parecia que tinha estudado os meus últimos dias, as minhas ultimas mudanças, os meus novos conceitos. Parecia que já sabia.
Eu vou precisar de mais noites assim, de mais manhãs assim.
Você deveria estar sempre por perto nessas horas.
Talvez seja um erro só existir um de cada, devia ter mais de você por ai.
Se eu não mais te ver, saiba que por uma noite, amei você.

sábado, 7 de janeiro de 2012

Amigo Executivo

Sabe aqueles seus pedidos de meia-fina e salto alto.
Aquelas que eu devia sempre sorrir, ser agradável.
As que eu deviria me vestir melhor, de uma maneira sensual e
não vulgar.
Em que eu devesse me comportar de forma atraente.
Que eu falasse em publico, fizesse o ambiente mais leve.
Que meu cabelo estivesse sempre brilhante e maquiagem feita.
Aquelas que me cobravam uma produção diária.
Pra que eu despertasse olhares por onde passasse.
Que eu deveria conquistar elogios.
Que eu deveria usar um perfume mais forte.
E eu de calça jeans com sapatilha 
E eu com a minha cara de realidade.
Eu com qualquer roupa, pra qualquer lugar.
Com um comportamento espontâneo.
Eu falava só com você, pra que pudesse me entender.
Minha maquiagem leve e meu cabelo casual.
E na correria, sem tempo pra muita coisa.
E eu só querendo que você me olhasse.
Eu esperei um elogio seu.
E a única coisa forte que eu queria era um amor.
Mas sempre me dizia: Eu só quero que você se sinta melhor, ficar mais a vontade. Quero que você esteja bem ao meu lado.
Falei: Mas já estou bem aqui.
Você também me disse que se eu melhorasse, poderia freqüentar alta sociedade, ter mais amizades, conhecer executivos, freqüentar outros ambientes, andar nos melhores carros, comer nos
melhores restaurantes.
Enfim, resolvi melhorar e novamente você tinha razão.
Esses alguém me olhou, me elogiou e viu em mim essas coisas que você gostaria de ter visto, e realmente ele me ofereceu todos esses lugares que você me disse e ainda pra que eu não rejeitasse o convite, se ofereceu em me gratificar pela hora em que eu estivesse ali com ele.
E eu sorri dizendo: Não. Obrigada, estou bem aqui.
E no final ele me disse: Eu só queria que você se sentisse melhor, mais a vontade... 

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Dissertação Final

“... Sou essa mistura bioquímica de menina, garota e mulher, e talvez me apaixonar seja minha principal atribuição...”.

Li isso em algum lugar e me vi inteira nela, do começo ao fim.
Que sou uma mistura bioquímica eu já sabia, mas menina, garota, mulher fui descobrindo aos poucos, cada uma em seu lugar dentro de mim. E me apaixonar então, nem se fala, mas como principal atribuição já me descreve bem.

E é assim, geralmente me apaixono por coisas que não deveria. Já me apaixonei por um solo de guitarra, por um sorvete surpresa, e até mesmo por alguém que caiu de uma escada imensa. Mas dessa vez, acho que me superei. A minha ultima paixão foi ler uma dissertação final de pós-graduação de um estranho.

Me apaixonei pela argumentação de um assunto desconhecido.
Foi uma leitura atenta, com fome da próxima linha.
Sua dedicatória me encantou, fiquei pensando por um instante que se eu fizesse parte da sua vida, talvez meu nome também poderia estar ali. O provérbio do autor um indiano anônimo passou a fazer parte da minha vida prática.
Usei sua apresentação em inglês para testar meu conhecimento meia-boca da língua, acho que fui aprovada, digamos que deu pra entender, apesar de já ter lido a versão em português da pagina anterior.

Passei uma tarde me deliciando com palavras.
Eram cento e quarenta e três páginas que eu leria de novo, embora só tenha chegado até a vigésima quinta.
Enquanto lia, me imaginava ali, em cada situação que descrevera.
Me imaginei tanto, que até passei a me ver do seu lado nas fotos. Sempre que via uma, tentava me enxergar, me encaixar, me aproximar.

Mas venhamos e convenhamos que qualquer força nessa direção, seria em vão. Quando que você, cheio de coisas, nomes, títulos, atividades, eventos, festas, amigos, trabalho, casa, etc... Vai se prestar a dar atenção a um projeto de mulher, aspirante a jornalismo, publicidade, letras, arquitetura ou sabe-se lá o quê.

Desculpa, mas devo confessar que uma garota prestes aos vinte e dois não teria todo esse poder. Se eu tivesse umas três graduações, alguns idiomas, ou até mesmo alguns centímetros a mais de altura, quem sabe. Qualquer coisa que pudesse ser interessante.
Talvez esse meu desejo de receber seu olhar, se acabe quando você realmente me olhar. A minha paixão acabe ao te tocar. E a minha empolgação passe ao te encontrar. Mas ainda sim será válido.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Ela...

E lá vai ela. Mais uma vez.
Saindo de casa, perfumada, engomada, pronta pra ser amada ou pelo menos encontrada, olhada.
Ainda que fosse pra levar uma cantada barata.
Esperando sabe-se o lá o quê.
Mas fica lá, fica ali, todos os dias a esperar.
Uma garota esperta, vivida, bem conhecida, amiga, compreensiva, bonita. Mas claro, com seus defeitos.
Tinha uma mania errada de fazer tudo certo. Pensava que podia ser o que quisesse, então escolheu ser o melhor que podia. 
Ela, com seu estilo retro, admirava coisas antigas. Foi criada a moda antiga. E a cada dia, mais queria ser como antigamente.
Tinha uma mania de colecionar coisas bobas para os outros e bonitas para ela: uma pedrinha da estrada em que passou, um cartão pequeno que recebeu em um presente, a blusa que foi da avó, a conchinha da primeira vez no mar, um hashi do restaurante japonês.
Garota assim, de poucos amigos, de poucos amores, mas claro,
de muitos sabores.
Dona de um olhar brilhante. E em tudo seus olhos viam beleza.
Sua mania mais perturbadora de todas era a de ser feliz por nada, assim atoa, ser feliz por estar feliz e pronto. Sorrir sem precisar fazer força. Era assim, feliz por nada, amava de graça, mas se precisasse, também sabia odiar gratuitamente.
Garota assim, com cara de menina e com espírito de mulher.
Meio determinada. Meio indecisa.
Mas juntando suas metades, lhe fazia uma inteira.
Confesso que era um pouco contraditória, um pouco extremista demais eu diria.
Posso dizer que também era amante das musicas, apaixonada por composições, deixava-se encantar com uma melodia, suspirava por poesia.
Vivia assim, achando graça numa parede branca, no detalhe da calçada, na nova cor que lançaram para um carro, nas construções da cidade, no recém nascido que ainda tem cara de joelho, no velho assentado no banco da praça.
Costumava falar baixo e sonhar alto.
Pensava que Caio Fernando Abreu escrevia para ela. Que Martha Medeiros era sua amiga. E que Samuel Rosa já a conhecia.
Andava assim, entre poesias e canções.
E assim era feliz.