domingo, 25 de março de 2012

Café de macho

Hoje me deu saudade de você. Saudades que não gosto de sentir.
Acho que me deu saudade porque amanhã é um dia especial pra mim. Me deu saudade porque deitei na cama com o quarto silencioso ao som da chuva lá fora.

Em dias de chuva, não sei porque, a cama costuma ficar maior.
Deu saudade porque senti frio e não tinha ninguém pra me abraçar por trás como você costumava fazer.

Alguns dias a trás me deu saudade também, mas foi saudade diferente. Saudade de amigo, não a saudade que hoje sinto.
Senti saudade no dia em que eu estava no Rio, finalmente conheci a cidade que você tanto falava mal. Fui lá para fazer minha primeira entrevista em inglês, te mandei uma mensagem, mas não sei se recebeu. Queria você aqui, para rir da minha tragédia na tal entrevista.

Esses dias lembrei de você porque eu estava conversando com seu amigo, aquele americano.

No último fim de semana também lembrei de você, mas foi engraçado, foi automático, foi bem cedo de manhã enquanto eu ainda fazia o café. De repente me deu uma vontade de mexer o pó dentro do coador com a colher pra ver se andava mais rápido, então lembrei da sua maneira de fazer "café de macho".

Logo em seguida eu abri a geladeira, peguei o queijo e cortei em pedaços, coloquei no microondas e só ao retirar o prato após um minuto, e ver a borda do queijo torrada do jeito que você gosta foi que me dei conta que você não está mais aqui.

As vezes sou assim, faço as coisas a sua maneira, ao seu gosto, ao seu ponto, mas só depois lembro que agora as coisas já podem voltar a ser como eram antes.

Fazer as coisas que você gosta é a forma que o meu corpo encontrou de expulsar a saudade. É como se eu conseguisse matar a saudade através da falta que você me faz.

Mas encaro isso como uma defesa do meu organismo, uma reação alérgica a sua ausência, uma inflação numa moeda chamada paixão, uma depressão pós parto, pois você partiu.

quinta-feira, 15 de março de 2012

Um dia comum

Hoje é seu aniversário.
Lembrei disso logo cedo quando olhei pro calendário de mesa do escritório.
Talvez você de uma forma inconsciente esteja esperando os meus parabéns como fiz todos esses anos.
Um e-mail gigante, um depoimento, um comentário, uma manifestação qualquer na suas redes sociais. Uma mensagem no celular, um toque de um número oculto. Ou ainda mais, uma entrega de um presente-surpresa sem identificação.
Mas não, esse ano não! Venho repetindo esse erro há cinco anos. E dessa vez será diferente. Viverei o dia de hoje como se fosse outro qualquer.
Dei meus sinceros votos de felicidade à outra pessoa.
Você sabe o que você foi pra minha vida? Apenas mais uma lição, a primeira de todas eu diria. Lição longa e dura, mas necessária.
Esse seu sorriso largo já não me conquista mais, sua voz mansa não me agrada mais, nem o seu violão me interessa mais.
Hoje achei uma coisa melhor pra fazer do que me preocupar com você.
Aliás, você nem gosta dessa data mesmo.
Você nunca vai ler isso aqui, mas se lesse, saberia que eu ainda quero te mandar e-mails exagerados, mensagens bobas, depoimentos melosos, te ligar com identificação, mandar presentes escandalosos.
Se eu pudesse, enfeitaria sua varanda e sua vida.
Te daria um bolo de chocolate e faria mais doce a sua vida. Nos aqueceria em noite fria...
Se eu pudesse... Mas não posso!
Não posso porque toda vez que fiz algo, foi errado, foi em vão. Todas as vez que tentei ficar perto, te afastei. Todas as vezes que insisti, você não quis. Sempre tentei, me machuquei. Agora por defesa ou por fraqueza não tento mais. Não espero mais. Não faço mais.
Já que não posso fazer por você, faço por mim.
Fiz um bolo de chocolate pra mim. Comprei um presente pra mim.
E até mesmo tudo o que escrevi, eu fiz pra mim!

sábado, 10 de março de 2012

Avenida Atlântida

Eu e você passando pela avenida ao som de Someone Like You.
Você disse que a canção era bonita, mas a letra era triste.
Eu disse que a canção era triste, mas a letra era verdade.
Eu ali, com uma canção que descrevia o meu momento com você.
Eu ali, passando na avenida que mudou a minha vida. 

A avenida que me fez viver os melhores e os piores momentos. Momentos que foram importantes pra mim.
Passávamos sempre ali com você dirigindo e eu passando a mão no seu cabelo.
Você dirigindo e traduzindo as canções do rádio pra mim. Você dirigindo e eu com a mão na sua perna.
Você dirigindo e eu ouvindo suas histórias, suas piadas, suas coisas, seus problemas...
Você dirigindo e eu torcendo pra você virar a esquerda sem me avisar. Você dirigindo e eu a te olhar.

Ainda me parece impossível ouvir a canção sem lembrar daquela manhã.
Ainda me parece impossível passar por aquela avenida sem lembrar das nossas noites.
Sei que haverão outras manhãs, mas o sol ainda não brilha pra mim.
Sei que haverão outras noites, mas a lua não aparece mais. 
Tudo o que vejo são estrelas caindo. Assim como eu, caindo.

quarta-feira, 7 de março de 2012

No fundo eu sabia

No fundo eu sabia. Sabia que não era o fim. Sabia que a história não poderia acabar assim. Não era possível que aquela seria a minha total recompensa por me comportar bem. Eu sabia que a vida não é muito fácil, mas também sei que não seria tão cruel assim. Agora sim, cada um com o que merece. E eu mereço você. Cada um com que é seu. E você é meu.

No fundo eu sabia que eles não ficariam impunes. Eles me roubaram, tramaram, armaram, tentaram, mas se frustraram. Você me pertence. Te ganhei com um olhar. Te ganhei por te amar.

No fundo eu sabia que seria assim. Eu aqui e você pra mim. Você aqui e eu por ti. Não dava pra ser de outro jeito, tinha que ser assim. Eu acreditei quando me disse que esse não seria o fim.
No fundo eu sabia que não acabou. Sabia que no seu coração você, me levou.
A prova que você precisava já tirou. E agora já sabe, que onde você for eu vou.

No fundo eu sabia que não iria agüentar. Eu continuo aqui no mesmo lugar, de braços abertos pra te ver voltar. Ainda temos muito chão pra juntos caminhar. E dessa vez as mãos não vamos soltar.

No fundo eu sabia que é amor. Mesmo no meio da dor. É amor. Amor que me dá calor. Amor que faz seguir a todo vapor. Amor que tira o temor. Amor que me dá tremor. Amor que faz meu dia ter cor. Amor que sempre volta. Amor que não vai embora. Amor que tem pressa e não demora.
No fundo eu sabia.

domingo, 4 de março de 2012

Eu menti

Me desculpa, mas tem uma coisa que está me incomodando.
Engraçado que é por uma coisa que não precisava de tanto, mas é que com você foi diferente e eu não sei por quê.

Ao dizer que conhecer você foi a melhor coisa que me aconteceu nos últimos tempos, você não tem idéia de quanta verdade há nisso. Mesmo que tenha sido só ali, naquela noite, naquela carona até uma parte do caminho.

Eu estava ali sim pela primeira vez, por uma espécie de acidente.
Minha amiga tinha ganhado uma cortesia e resolveu usar me convidando para ir naquele lugar. Eu posso até ter me saído bem para uma primeira noite, mas não é porque freqüento lugar lugares dançantes, é porque fiz alguns míseros anos de dança, e hoje me sobra alguns reflexos.

Sempre ter um namorado não é o meu maior motivo por não freqüentar lugares dançantes, baladas, boates como eu te disse.
Não freqüento por um motivo muito mais simples e complexo ao mesmo tempo. Por uma questão de criação, amizade, afinidade e intimidade.

Eu também não sei por que, mas você não me é estranho, tenho a sensação de já ter nos trombado por algum lugar. Conheço bem o seu bairro, a rua do seu trabalho, cresci ali, mas não sei aonde que já te vi. Temos alguns amigos que se conhecem, mas também não sei se é isso.

Mas às vezes não, talvez fiquei com essa sensação só por ter gostado de você, só por ter me sentido tão bem ao seu lado, e que pra mim até parecia que eu já te conhecia.

Eu posso até ter mentido, mas você também mentiu. Disse que iria me ligar.
Mais uma vez me desculpe. E novamente, foi um prazer te conhecer.

Ah, só mais uma coisa. Ela não era minha amiga. Ela é a minha mãe.

quinta-feira, 1 de março de 2012

Entrando em órbita

Ah... 
Se você pudesse me ouvir. Tudo o que queria era que você estivesse aqui. 
Mesmo que fosse só pra me ver chorar, sei que não gosta de me ver assim, então faria algo para minhas lágrimas secar e me fazer sorrir.

Mas agora tudo é diferente, você se mudou, cresceu, tem uma família agora. Um filho pra criar. E eu não, eu a mesma coisa. Aqui eu, com as minhas meninices de sempre. 

O seu colo é só mais um que eu perdi. No colo do meu pai já não me cabe, do homem que amei já não me quer mais, mas o seu colo eu pensei que perderia jamais.

É assim, todos tem um colo, um ombro, um abraço, um peito. Mas eu não, tudo o que tenho são minhas próprias pernas, pra me fazerem caminhar por aí, que talvez, já soe como suficiente, mas não é.

Sabe quando todo mundo fica sem graça, quando nada tem cor, quando o vento não refresca mais, quando a música se torna só um barulho, quando sorrir vira um exercício diário, quando chorar já faz parte do comum, quando os olhos não brilham mais, quando a voz se cala, os braços perdem a força, quando... E até quando tudo vai ficar assim?

Eu quero o céu azul de volta, quero dançar novamente com as canções, quero sorrir espontaneamente outra vez, chorar de felicidade, sentir os olhos brilhar quando pra uma criança eu olhar, quero ter voz ativa e força pra lutar, quero... Quero que as coisas se alinhem, quero a minha órbita voltar.