Pendurar sua cueca no varal pra mim foi o mesmo que
“pendurar a chuteira” para um jogador.
Ficou ali, pendurada, balançando, me olhando. E eu também
olhei, olhei porque ali me vi fazendo pela ultima o vez que desejei fazer todos
os dias. Não era só uma cueca, era uma vida, um sonho. Era um plano, um desejo,
que se resumiu em apenas uma cueca no varal.
Fiquei ali por alguns minutos pensando em você e percebi que é melhor
não pensar, ou pensar que você está longe. Longe o suficiente pro meu
pensamento não te encontrar, não te desejar, não te despertar outra vez em mim.
Gosto de acreditar que você está bem, bem e longe também. Detestei lembrar que
você estava há poucos quilômetros, detestei lembrar que sua casa é logo ali do
outro lado, embora já tenha se passado bastante tempo ainda vivo me adaptando
quando você está na cidade. Quando você foi embora, se foi para longe, então te
mantenho lá, longe de mim. Pode ser uma fraqueza, mas foi a única forma que
encontrei de olhar pro céu azul e não mais lembrar que é a cor dos seus olhos. Digamos
que é uma adaptação que ainda não me adaptei. Mas outro dia em um almoço
percebi que definitivamente é melhor me adaptar em passos largos, pois estou classificada
entre as garotas abaixo de vinte e cinco anos que aceitam convites para uma
noite de azar. Eu entendi que pra você foi só uma noite de azar, talvez tenha
sido um almoço de azar também. Azar mesmo foi o meu, porque quando você não tinha
sorte eu te dei, foi ao meu lado que sua sorte virou em um palito de picolé
premiado. Naquele momento ao seu lado vi que tinha te perdido, foi no meio da
estrada que pra casa eu voltei calada.
Olhei outra vez pra cueca branca pendurada no varal. Vi que
o vento a tocava, pedi pra que esse mesmo vento levasse de mim a saudade. Deu
saudade de você. Deu saudade porque não vou mais te ter.
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