sábado, 29 de outubro de 2016

Tô pedindo muito produção?

Saudade de mim. Saudade do que deixei pra trás quando me perdi. Saudade das minhas pseudocertezas. Saudade da minha leitura poética sobre tudo. Saudade da leveza que eu encarava a vida. Saudade das soluções que criava para os problemas dos outros e para os meus próprios. Saudade da minha fé. Saudade da garganta limpa, livre de qualquer nó engasgado. Saudade de andar pela cidade inteira sorrindo. Saudade do meu bom humor. Saudade do meu deboche disfarçado de educação. Saudade de ter manias diferentes. Saudade das minhas especialidades peculiares. Saudade de ter orgulho do presente. Saudade de sonhar com o futuro. Saudade do que pensava sobre o amor, sobre os relacionamentos, sobre os afetos.

Eu que sempre defendi o amor, tinha teorias infalíveis. Era a primeira a aplaudir qualquer sinal do que achei que fosse o amor. Parecia uma fonte sem fim de amor, força e fé. Era romântica incorrigível. Incentivei tantos a lutarem pela felicidade. Cuidei de tantos outros corações quebrados. Acreditei em amores impossíveis. Via beleza em cada coração. Amava todos os que tinham um coração, mesmo se fosse um coração cinza. Me sentia artista. Sabia colorir o dia, a vida e os corações de quem estava perto de mim.

Hoje não sinto mais nada. Nem meu próprio coração. Nem força. Nem amor. Nem fé. Fria, fraca e cinza me tornei. Longe de todas as cores que já tive. Distante de toda força que já gastei. Descrente de quase tudo que acreditei. Minhas teorias infalíveis falharam. Minhas teorias não passaram no teste da vida. É duro assumir um auto-engano do tamanho do meu. Terrível a dor de assumir as consequências de agir com o coração. Coração que tinha prece nos lábios e gastava a fé em oração. Tão difícil é assumir o fim daquilo que eu só queria que fosse o começo.

É duro e cruel aceitar uma decepção provocada por si própria. Certamente desconsiderei algum sinal ou evidência que estava no caminho errado. Certamente atropelei os fatos e talvez até algumas pessoas. Impressionante o poder de uma ilusão te arremessar no chão. Todos dizem que do chão não passa. Que pena, rs. Tudo o que eu precisava era passar desse chão e achar um novo céu. Respirar outro ar. Uma nova história pra acreditar.


Às vezes torço pra alguém me contar que tudo não passou de uma pegadinha de câmera escondida. Que esse momento foi só uma brincadeira. Que alguém apareça com uma caixa de presente e devolva o coração que me tiraram. Que me devolva o enredo da minha própria história. Que me deixem ficar de novo lugar da mocinha e me arranquem desse papel de vilã, que me botaram a força. Que me ponham com um par romântico de verdade dessa vez, por favor. Com alguém que não morra no final. Com alguém que não me abandone sem explicação. Com alguém que não me faça refém de uma traição. Tô pedindo muito produção?