Saudade de mim. Saudade do que
deixei pra trás quando me perdi. Saudade das minhas pseudocertezas. Saudade da
minha leitura poética sobre tudo. Saudade da leveza que eu encarava a vida.
Saudade das soluções que criava para os problemas dos outros e para os meus próprios.
Saudade da minha fé. Saudade da garganta limpa, livre de qualquer nó engasgado.
Saudade de andar pela cidade inteira sorrindo. Saudade do meu bom humor.
Saudade do meu deboche disfarçado de educação. Saudade de ter manias
diferentes. Saudade das minhas especialidades peculiares. Saudade de ter
orgulho do presente. Saudade de sonhar com o futuro. Saudade do que pensava sobre
o amor, sobre os relacionamentos, sobre os afetos.
Eu que sempre defendi o amor,
tinha teorias infalíveis. Era a primeira a aplaudir qualquer sinal do que achei
que fosse o amor. Parecia uma fonte sem fim de amor, força e fé. Era romântica incorrigível.
Incentivei tantos a lutarem pela felicidade. Cuidei de tantos outros corações
quebrados. Acreditei em amores impossíveis. Via beleza em cada coração. Amava
todos os que tinham um coração, mesmo se fosse um coração cinza. Me sentia
artista. Sabia colorir o dia, a vida e os corações de quem estava perto de mim.
Hoje não sinto mais nada. Nem meu
próprio coração. Nem força. Nem amor. Nem fé. Fria, fraca e cinza me tornei.
Longe de todas as cores que já tive. Distante de toda força que já gastei.
Descrente de quase tudo que acreditei. Minhas teorias infalíveis falharam.
Minhas teorias não passaram no teste da vida. É duro assumir um auto-engano do
tamanho do meu. Terrível a dor de assumir as consequências de agir com o
coração. Coração que tinha prece nos lábios e gastava a fé em oração. Tão difícil
é assumir o fim daquilo que eu só queria que fosse o começo.
É duro e cruel aceitar uma decepção
provocada por si própria. Certamente desconsiderei algum sinal ou evidência que
estava no caminho errado. Certamente atropelei os fatos e talvez até algumas
pessoas. Impressionante o poder de uma ilusão te arremessar no chão. Todos
dizem que do chão não passa. Que pena, rs. Tudo o que eu precisava era passar
desse chão e achar um novo céu. Respirar outro ar. Uma nova história pra
acreditar.
Às vezes torço pra alguém me
contar que tudo não passou de uma pegadinha de câmera escondida. Que esse
momento foi só uma brincadeira. Que alguém apareça com uma caixa de presente e
devolva o coração que me tiraram. Que me devolva o enredo da minha própria
história. Que me deixem ficar de novo lugar da mocinha e me arranquem desse
papel de vilã, que me botaram a força. Que me ponham com um par romântico de
verdade dessa vez, por favor. Com alguém que não morra no final. Com alguém que
não me abandone sem explicação. Com alguém que não me faça refém de uma
traição. Tô pedindo muito produção?